Opinião

A energia solar que faz o Brasil crescer

Fonte solar fotovoltaica é estratégica para a retomada econômica sustentável do País e alivia a pressão sobre os recursos hídricos

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  • Por Rodrigo Sauaia com Ronaldo Koloszuk

Em momentos de grandes crises globais, autores e historiadores identificam setores, agentes e indivíduos específicos, que demonstram níveis excepcionais de criatividade, adaptabilidade e resiliência, com reflexos de ordem econômica, social, geopolítica e sanitária.

No período atual, países, empresas e pessoas ainda enfrentam as consequências da pandemia de COVID-19 – e avançam na busca de soluções para a saída desta crise planetária, imprevista e profunda, a maior em um século de história.

No caso brasileiro, o crescimento econômico de 1,2% no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE, e a projeção de um PIB para este ano acima de 4%, de acordo com os analistas de mercado, dão sinais de uma retomada. Porém, o cenário promissor pode ser ameaçado com o aumento do risco de racionamento de energia elétrica no País, dado o grave quadro de crise hídrica e escassez nos reservatórios das usinas hidrelétricas enfrentado a partir dos anos 2000.

Parte desses impactos já é sentido no setor produtivo e no orçamento das famílias brasileiras, por conta dos aumentos recorrentes na conta de luz. Recentemente, o País passou a cobrar novamente a famigerada bandeira vermelha patamar 2 (a mais alta), resultado do acionamento em massa das termelétricas fósseis, caras e poluentes. Passou, também, a importar eletricidade de outros países, como Argentina e Uruguai, o que tem encarecido ainda mais a eletricidade dos brasileiros. Como consequência, esses reajustes tarifários já têm provocado um crescimento sensível da inflação no Brasil.

Desafiando as ameaças da pandemia e da crise energética, a energia solar fotovoltaica, por outro lado, tem se apresentado como uma verdadeira “luz no horizonte”, com força, resiliência e versatilidade. O setor é visto como um protagonista cada vez mais para a retomada econômica sustentável e competitiva do Brasil, no curto, médio e longo prazos. Além de aliviar o sistema elétrico com economia de água nos reservatórios e, assim, reduzir o risco de racionamento.

Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) aponta que o Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 9 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar em usinas de grande porte e em pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos. Desde 2012, a fonte já trouxe mais de R$ 48,5 bilhões em novos investimentos ao País e gerou mais de 275 mil empregos acumulados.

O avanço da energia solar no País, via leilões para grandes usinas ou pela geração própria em residências, pequenos negócios, propriedades rurais e prédios públicos, é fundamental para reduzir o chamado “custo Brasil”. Ela proporciona uma energia elétrica mais competitiva aos brasileiros, diversificando o suprimento de energia elétrica do País e reduzindo a ocorrência das bandeiras vermelhas na conta de luz da população.

No segmento de geração centralizada, o Brasil possui 3,3 GW de potência instalada em usinas solares fotovoltaicas, o equivalente a 1,9% da matriz elétrica do País. Em 2019, a fonte foi a mais competitiva entre as fontes renováveis nos dois Leilões de Energia Nova, A-4 e A-6, com preços-médios abaixo dos US$ 21,00/MWh.

Atualmente, as usinas solares de grande porte são a sétima maior fonte de geração do Brasil, com empreendimentos em operação em nove estados brasileiros, nas regiões Nordeste (Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e Centro-Oeste (Tocantins). Os investimentos acumulados deste segmento ultrapassam os R$ 18 bilhões.

Ao somar as capacidades instaladas das grandes usinas e da geração própria de energia solar, a fonte fotovoltaica ocupa o sexto lugar na matriz elétrica brasileira, atrás das fontes hidrelétrica, eólica, biomassa, termelétricas a gás natural e termelétricas a diesel e outros combustíveis fósseis. A fonte solar já representa mais do que a somatória de toda a capacidade instalada de termelétricas a carvão e usinas nucleares, que totaliza 5,6 GW.

No segmento de geração própria de energia, são 5,9 GW de potência instalada da fonte solar. Isso equivale a mais de R$ 29 bilhões em investimentos e a criação de mais de 174 mil empregos acumulados no período desde 2012, espalhados pelas cinco regiões do Brasil. A tecnologia solar é utilizada atualmente em 99,9% de todas as conexões de geração própria no País, liderando com folga o segmento.

O Brasil possui mais de 500 mil sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede, trazendo economia e sustentabilidade a mais de 600 mil unidades consumidoras. A geração própria de energia solar está presente em 5.257 municípios e em todos os estados brasileiros. Entre os cinco municípios líderes estão Cuiabá (MT), Brasília (DF), Teresina (PI), Uberlândia (MG) e Rio de Janeiro (RJ), respectivamente.

Embora tenha avançado nos últimos anos, o Brasil – detentor de um dos melhores recursos solares do planeta – continua atrasado no uso da geração própria de energia solar. Dos mais de 86 milhões de consumidores de energia elétrica do País, menos de 0,7% já faz uso do sol para produzir eletricidade, limpa, renovável e competitiva.

Portanto, a criação de um marco legal para a geração própria de energia, conforme proposto no Projeto de Lei nº 5.829/2019, de autoria do deputado federal Silas Câmara e relatoria do deputado federal Lafayette de Andrada, em curso na Câmara do Deputados, é prioridade no cenário atual. O marco legal irá fortalecer o desenvolvimento socioeconômico e sustentável no período de pandemia.

Vale lembrar que a energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do País. O setor solar fotovoltaico trabalha para acelerar a expansão renovável da matriz elétrica brasileira, a preços competitivos. Trata-se da fonte renovável mais barata do Brasil, que ajuda o País a crescer com cada vez mais competitividade e sustentabilidade.

A energia solar na geração própria ajuda a economizar água dos reservatórios das hidrelétricas do País e reduz o uso de termelétricas fósseis, responsáveis pelos altos reajustes tarifários. Com isso, diminui a conta de luz de todos os brasileiros. Também reduz as perdas elétricas e os gastos com infraestrutura elétrica, que seriam rateados e cobrados nas contas de luz dos consumidores. Por isso, é fundamental fortalecer e incentivar o uso desta tecnologia no Brasil.

 

Rodrigo Sauaia é cofundador e CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), cofundador e membro do conselho diretivo do Global Solar Council (GSC), entidade global que representa o setor solar em âmbito internacional. É doutor em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela PUCRS, com colaboração internacional no Fraunhofer ISE (Alemanha), mestre em Energias Renováveis com Especialização em Energia Solar Fotovoltaica pela Loughborough University e Northumbria University (Reino Unido), com colaboração internacional no ETH Zürich (Suíça), e bacharel em Química pela USP.

 

 

 

 

Ronaldo Koloszuk é presidente da Absolar, diretor da Fiesp e diretor comercial da Solar Group

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