Opinião

Transformação Digital no Setor de Geração de Energia Solar

Trabalhar simultaneamente Tecnologia, Processos e Cultura, etapas da jornada de transformação digital, torna a operação mais otimizada e eficiente na geração, no armazenamento, gestão e comercialização da energia.

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A “Transformação Digital” impacta organizações dos mais diversos elos da cadeia de valor do setor de energia, e não seria diferente com as empresas atuantes na geração de energia solar. Tanto em geração centralizada (GC), como em geração distribuída (GD), a transformação digital traz desafios tecnológicos e organizacionais de formas distintas para as empresas atuantes em GC e GD. O foco deste artigo está na GC, considerando médias e grandes empresas geradoras de energia solar.

No Brasil, a energia solar fotovoltaica segue em expansão, já passando de 14 GW em capacidade instalada e, conforme projeções da EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas), a potência gerada deve atingir cerca de 31,2 GW até o ano de 2030, sendo 8,4 GW de geração centralizada e 22,8 GW de geração distribuída, o que demonstra o enorme investimento e potencial de geração de valor com a energia solar.

Por se tratar de um segmento de mercado relativamente recente, os sistemas adotados na automação das fazendas solares e na gestão das rotinas operacionais, em sua maioria, já são digitalizados.

Entretanto, muitos ainda pensam, equivocadamente, que a transformação digital se trata somente da adoção massiva de tecnologias digitais, porém, para o sucesso de uma jornada de transformação digital, trabalhar simultaneamente Tecnologia, Processos e Cultura, se torna o principal fator crítico de sucesso a ser alcançado.

É importante destacar que há uma diferença bastante significativa entre as bases conceituais dos termos “digitalização” e “transformação digital”, embora muitas vezes, estes termos sejam utilizados de forma equivocada.

Figura 01: Tecnologias habilitadoras da Transformação Digital

 

Fonte: Elaborado pelo autor

 

Digitalização significa converter sinais analógicos em digitais, tanto nos sistemas de automação das operações das fazendas solares, como nos sistemas de gestão e comercial das empresas, adotar ferramentas computacionais para executar tarefas que antes eram feitas manualmente ou através de planilhas, por exemplo.

Já a transformação digital significa atuar simultaneamente, adotando tecnologias habilitadoras (convencionais, emergentes da indústria 4.0 ou disruptivas), otimizando os processos e adaptando a cultura nas três dimensões organizacionais das empresas, gerando, como consequência, novos modelos de negócios e criando novas fontes de receita através do uso estratégico dos dados e sistemas integrados por toda organização e, idealmente, por toda cadeia de valor do setor de energia solar.

Estas três dimensões organizacionais citadas são: Back office (os ativos de geração de energia solar), Middle office (área corporativa da empresa) e Front office (área comercial, marketing e de serviços aos clientes).

Figura 02: Dimensões organizacionais em empresas de base industrial

Fonte: Elaborado pelo autor

 

A adoção massiva de tecnologias convencionais, emergentes da indústria 4.0 (IoT/IioT, Drones, RV/RA, Blockchain, etc) ou mesmo tecnologias disruptivas desenvolvidas por startups ou grandes empresas, precisam estar alinhadas com a estratégia corporativa das empresas.

Os processos precisam estar ajustados a um modelo de fluxo de valor que permita sua otimização a ponto de se tornar uma vantagem competitiva, gerenciando e reduzindo o impacto das restrições, sendo mais enxutos e reduzindo desperdícios, preparando a empresa para a automação massiva em suas três dimensões organizacionais.

A cultura e a estrutura organizacional precisam estar adaptadas para um ambiente de hiperautomação, inovação aberta e metodologias ágeis. Ter esta mentalidade para atuar adequadamente em uma nova realidade de negócios e acelerar a transformação digital, se torna mandatório para as empresas com visão de futuro.

Podemos enxergar a importância da transformação digital nas empresas atuantes no setor de energia solar por duas lentes. Uma lente focando para dentro das organizações que participam de cada um dos elos da cadeia de valor, onde podem (e devem) atuar nos três pilares fundamentais da transformação digital: Tecnologia, Processos e Cultura, e nas três dimensões organizacionais (Back, Middle e Front offices) simultaneamente. E uma outra lente olhando para a cadeia de valor como um todo, visando uma integração dos dados que permeiam por todos os elos, e possibilitando a otimização dos recursos, capacidades e competências de forma expandida. Sim, pode parecer utópico, mas os segmentos de mercado que já conseguiram integrar alguns de seus elos da cadeia de valor, conseguiram impactar substancialmente a competitividade das organizações que fazem parte dela, gerando benefícios às partes interessadas.

No setor de energia solar, onde os elos iniciais da cadeia de valor estão majoritariamente fora do Brasil, torna-se ainda mais importante que as empresas atuantes nos demais elos em que temos forte atuação por aqui, executem suas respectivas jornadas de transformação digital.

Figura 03: Elos iniciais da cadeia de valor do setor de energia solar

Fonte: Sandor, D.; Chung, D.; Keyser, D.; Mann, M.; Engel-Cox, J. Benchmarks of Global Clean Energy Manufacturing; Clean Energy Manufacturing Analysis Center: Golden, CO, USA, 2017; NREL/TP-6A50-65619.

 

Nos primeiros elos da cadeia de valor, ainda na fase de extração dos minérios que vão compor as placas solares, passando pelo processamento destes materiais, fabricação dos subcomponentes e das placas solares em si, temos a China como um dos países mais relevantes. Em sequência, temos os fornecedores de painéis, inversores, cabos, sistemas de automação e gestão de redes, além dos prestadores de serviços especializados, como os integradores e EPCs que constroem as usinas solares, finalizando com as empresas de operação e manutenção e as próprias comercializadoras de energia em contato com os clientes.  Extrair mais valor dos dados que estas empresas manipulam e ir além do uso da energia do sol é um dos grandes desafios do setor. Daí a necessidade de se ter uma estratégia clara de transformação digital.

Figura 04: Balanço comercial de módulos fotovoltaicos, células e polysilicon. Importações são indicadas como negativas e exportações indicadas como valores positivos em milhões USD. O valor numérico indicado representa o balanço ( exportações menos importações em 2016).

Fonte: : https://www.usitc.gov and https://www.trademap.org/Index.aspx

 

Nos projetos já executados, vemos que o setor de energia solar possui um bom nível de digitalização, mas ainda há muito por se fazer quando se trata de transformação digital.

Os empreendimentos de grandes usinas na geração de energia solar centralizada se constituem, em grande parte, por SPEs, reunindo acionistas investidores, comercializadores e consumidores de energia. Estes perfis diversificados, oriundos de culturas e índices de maturidade digital distintos, representam um desafio adicional para a execução da transformação digital, por isso, ter claramente este tema na estratégia corporativa, se torna vital para uma indústria da energia solar inserida na quarta revolução industrial.

Outro ponto a ser destacado é que projetos de geração de energia solar também podem ser considerados como parte do conjunto de iniciativas da estratégia de ESG (Environmental, Social and Governance) das empresas, uma vez que a aquisição de energia através de fontes renováveis está inserida no escopo 2 dos planos de gestão de emissões de gases do efeito estufa (pegada de Carbono). As tecnologias habilitadoras adotadas nas jornadas de transformação digital, tornam a operação mais otimizada e eficiente na geração, no armazenamento, gestão e comercialização da energia.

A quarta revolução industrial é inevitável, iniciou em 2012 e foi acelerada pela pandemia. Estamos todos vivenciando os movimentos transformacionais em nossa vida pessoal e profissional. A melhor estratégia para fazer parte deste contexto da quarta revolução industrial, é ter uma clara estratégia de transformação digital, executando-a por toda organização e, idealmente, pela cadeia de valor. A energia solar tem um papel importantíssimo na transição energética, e as empresas do setor que seguirem a jornada de transformação digital, estarão um passo adiante das demais que somente captam a energia do sol.

 

 

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